sexta-feira, 10 de maio de 2013

José e Daniel: Uma Única História, Vários Valores de Liderança Aprendidos




Introdução
     Este artigo compara as histórias e estilos de liderança de José e Daniel. Mesmo que de diferentes épocas e lugares, as histórias de José e Daniel compartilham várias semelhanças. Ambos contam a história de um jovem israelita que foi usado nas mãos de Deus em um momento difícil e em uma terra estranha. Tanto o estilo de liderança de Daniel como o de José são baseados em sua fidelidade à Deus e sua determinação de não abandonar os princípios divinos.

O Contexto das Histórias de José & Daniel
     A história de Daniel é como a história de José, apenas os riscos são mais altos e o desafio é maior. Em ambas as histórias, o rei está preocupado com o seu sonho (Gn 41:8, Dan 2:01). O rei chama seus mágicos e sábios, mas eles não podem interpretar seu sonho (Gn 41:8, Dan 2:02, 10-11). Nas histórias de Daniel e José, o rei coloca os mágicos e sábios nas mãos do chefe de polícia (Gn 41:10) para serem mortos (Daniel 2:12-13). Um jovem israelita que foi exilado é encontrado e levado perante o rei (Gen 41:14, Dan 2:25). O israelita nega a capacidade de interpretar o sonho e diz que só Deus pode fazer isso (Gen 41:16, Dan 2:27-28). Na história de José, o sonho é dito para o israelita (Gn 41:17). Na história de Daniel, o sonho não é dito para o israelita (Dan 2:5). Em ambas as histórias Deus revela o sonho e a interpretação para os israelitas, e o sonho é sobre o futuro da nação e as preocupações do rei (Gen 41:25, Dan 2:31-45). Após o israelita dizer ao rei o sonho e a interpretação, o rei o coloca em uma posição oficial elevada (Gen 41:40, Dan 2:48).

Os Valores e Ética de José & Daniel
     Líderes cristãos precisam seguir a Deus, mesmo quando liderando não-cristãos. Tanto José quanto Daniel mantiveram seus valores divinos em uma terra estrangeira, mesmo que isso significasse arriscarem suas vidas.  José foi tentado a pecar contra Deus e seu mestre (Gn 39), e mesmo que não houvesse ninguém olhando, José manteve seus valores divinos firmes. Por causa de sua decisão de não pecar, ele foi para a prisão acusado injustamente, mas a presença de Deus estava com ele (Gn 39:21). Daniel também teve que lutar por seus valores divinos em uma terra estrangeira. De acordo com Collins, "Daniel e seus amigos são caracterizados nos contos pela observância das leis (por exemplo, as leis alimentares em Daniel 1) e rejeição da idolatria, mesmo com o risco de morte (Dan 3)" (Collins 135).
     É interessante notar que, mesmo que a serviço de um rei pagão, Daniel e seus amigos "mostraram uma atitude muito positiva para com o governo gentio" (Collins 135). Daniel e seus companheiros "não adotaram todas as formas de adivinhação praticada por seus colegas caldeus, mas desenvolveram interesse nos estudos de sonhos" (Collins 137). Eles mantiveram seus valores divinos e de piedade, e Deus os abençoou com conhecimento e sabedoria (Daniel 1:17). De acordo com Collins, "o objetivo dos contos é, finalmente, não o reconhecimento dos sábios, mas a glorificação do seu Deus" (Collins 137).

Os Meios de Influência de José & Daniel
     Tanto José quanto Daniel influenciaram o futuro da nação interpretando o sonho do rei. No entanto, na história de Daniel, os riscos foram superiores e o desafio foi maior. Os riscos foram superiores porque a vida de muitas pessoas estavam em risco, e Daniel só poderia salvar aquelas vidas através da interpretação do sonho. Rindge escreve: "nenhuma conseqüência é mencionada em Gênesis 41 se José não apresentar a Faraó a interpretação do seu sonho. Para Daniel, no entanto, e para o resto dos sábios da Babilônia, proporcionando a interpretação do sonho é uma questão de vida ou morte" (Rindge 92). O desafio de Daniel foi maior porque, na história de José, o rei disse-lhe o sonho, enquanto na história de Daniel, o rei não lhe contou o sonho que ele tinha para interpretar.
     Pode-se inferir que a vida de José havia influenciado as pessoas ao seu redor onde quer que ele estivesse. Em casa, seu pai havia lhe colocado como gerente sobre seus irmãos (Gn 37:2). Como escravo na casa de Potifar, ele foi promovido ao cargo de gerente de todo o espólio de Potifar (Gn 39:4-6). Na prisão, encarregado dos outros prisioneiros (Howell 23, Gen 39:21-23). E mais tarde, ele foi "promovido de intérprete para conselheiro chefe, segundo-em-comando de Faraó" (Howell 24). Deus estava com José e abençoava tudo o que ele fazia.
     Daniel é exilado para a Babilônia, onde ele, como José, tem que trabalhar para o bem-estar de uma nação estrangeira. Rindge destaca que "em cada história há um reconhecimento da presença divina com o herói" (Rindge 87). Deus foi quem lhes deu a interpretação do sonho em ambas as situações, no entanto, pode-se inferir que as habilidades de interpretação de Daniel foram superiores do que as de José. Rindge compara as habilidades de interpretação de José e Daniel:
A habilidade de Daniel como intérprete é superior a de José. Isto pode ser entendido pela confiança que ele expressa em sua capacidade de fornecer a interpretação do sonho. Em duas ocasiões, ele promete fazer-se conhecida a interpretação (2:16,24). José, no entando, não faz essa promessa. Além disso, Daniel é o que inicia ir diante do rei (2:14, 16, 24), novamente em contraste com José, que é chamado a presença do rei (41:14). Por último, enquanto Faraó informa José o conteúdo do sonho (41:17-24), Daniel é o que revela o conteúdo do sonho de Nabucodonosor a ele (2:31-35). (92)
     Pode-se inferir que Daniel teve uma influência maior no reino babilônico já que ele foi quem pediu para ir à presença do rei, e o rei aceitou receber Daniel na sua presença.
     Tanto José quanto Daniel interpretaram o sonho do rei e foram promovidos a uma posição importante no reino. No entanto, é interessante notar que a mensagem de Daniel não era favorável ao rei, e o rei, ainda assim, aceita sua mensagem e dá-lhe o poder de seu reino. A mensagem de José, embora preveja a fome no reino, é uma mensagem de bênção para o rei, que lhe dá uma solução para salvar seu reino da fome e lhe dá o poder de fornecer meios de susbsistência aos reinos vizinhos.

Síntese dos Estilos de Liderança de José e Daniel
     Os estilos de liderança tanto de Daniel quanto de José foram baseados em sua fidelidade a Deus e sua sua determinação de não abandonar os princípios divinos.
     De acordo com Howell, o perfil de liderança de José foi baseado em (1) a presença de Deus, (2) integridade diante de Deus e do homem, (3) a confiança na graça soberana de Deus (Howell 25, 26). A presença de Deus pode ser reconhecida facilmente na vida de José. Mesmo que as circunstâncias estavam contra ele por várias vezes (vendido à escravidão por seus irmãos, e injustamente acusado pela mulher de Potifar), Deus sempre fez um caminho para resgatar José e abençoá-lo. José mostrou integridade para com Deus e seu mestre por não pecar com a mulher de Potifar. Howell define a confiança de José na graça soberana de Deus como "José se mostrou resistente em contratempos, perdoador quando injustiçado, e fiel em mordomias por causa de sua profunda crença em um Deus que estava trabalhando por ele para realizar a libertação da família escolhida" (Howell 26). José escolheu ser fiel e confiar em Deus, mesmo quando tudo parecia contrário. Como resultado de sua fidelidade, Deus confiou-lhe uma posição de honra e o usou  como um instrumento de bênção para sua família e para muitas nações.
     Howell define o perfil de liderança de Daniel em (1) a confiança no triunfo dos propósitos de Deus no mundo, (2) a preserva de identidade própria e convicção em um ambiente secular, (3) oração apaixonada pelo povo de Deus (Howell 120, 121). A confiança de Daniel no triunfo dos propósitos de Deus no mundo pode ser vista em sua interpretação do sonho do rei. Ele não tem medo de anunciar que o reino de Deus triunfará sobre o império do rei Nabucodonosor. Daniel e seus amigos preservaram a sua identidade e convicção em um contexto secular não só por não comer a comida real, mas por se posicionar por suas crenças. Como resultado da fidelidade de Daniel a Deus, Deus o abençoou e o usou  como instrumento de bênção para muitos. De acordo com Gnuse, a história de Daniel "transmitiu uma mensagem de esperança,  declarando que declarou que os judeus poderiam servir reis estrangeiros e trazer ajuda ou salvação para o seu próprio povo, bem como ajudar os estrangeiros" (Gnuse 31). Além disso, Daniel era conhecido como um homem de oração, mesmo quando arriscando sua vida, como visto em Daniel 6, onde ele é colocado em uma cova dos leões por ser visto orando. Rindge escreve: "um elemento de destaque na narrativa que Daniel que está ausente em Gênesis 41 é a oração de Daniel (2:17-23)" (Rindge 92). Daniel ora para que Deus o ajude a interpretar o sonho do rei. Além disso, Daniel ora pelo povo de Deus (Dan 9).

Conclusão
     Este artigo comparou as histórias e estilos de liderança de José e Daniel. Mesmo que as histórias de José e Daniel compartilham várias semelhanças, na história de Daniel os riscos são superiores e o desafio é maior. Em ambas as histórias, um jovem israelita foi usado como instrumento de bênção nas mãos de Deus, em um momento difícil e em uma terra estranha. Tanto o estilo de lidernça de Daniel como o de José são baseados em sua fidelidade à Deus e a sua determinação de não abandonar os princípios divinos. As histórias de José e Daniel ensinam líderes cristãos lições importantes. Líderes cristãos devem seguir os exemplos de José e Daniel, mostrando integridade a Deus e ao homem, mesmo no meio das dificuldades. Líderes cristãos devem confiar que Deus está sempre no controle da situação, e é capaz de redimir o seu povo, mesmo quando todas as circunstâncias são contrárias. Portanto, líderes cristãos devem ser fiéis a Deus e não permitir que a corrupção do mundo secular interfira em seus princípios e valores divinos.
Além disso, líderes cristãos devem sempre orar para que Deus os dirija na liderança a frente do povo de Deus com integridade e orar pelos seus liderados.

Escrito por: Sara Silveira Santos Huson
Editado por: Juçara Silveira Santos

Bibliografia

Collins, John Joseph. "Daniel And His Social World." Interpretation 39.2 (1985): 131-143. ATLA Religion Database with ATLASerials. Web. 3 Apr. 2013.
Gnuse, Robert. "From Prison To Prestige: The Hero Who Helps A King In Jewish And Greek Literature." Catholic Biblical Quarterly 72.1 (2010): 31-45.ATLA Religion Database with ATLASerials. Web. 3 Apr. 2013.
Howell, Don N. Servants of the Servant: A Biblical Theology of Leadership. Eugene: Wipf & Stock Publishers, 2003. Print.
Rindge, Matthew S. "Jewish Identity Under Foreign Rule: Daniel 2 As A Reconfiguration Of Genesis 41." Journal Of Biblical Literature 129.1 (2010): 85-104. ATLA Religion Database with ATLASerials. Web. 3 Apr. 2013.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Interpretação de Gênesis 9:24-25 e a Polêmica do Pr. Marco Feliciano


Milhões de brasileiros têm acompanhado o Pr. Marco Feliciano, especialmente nas notícias. Esta postagem visa compartilhar uma outra interpretação de Gênesis 9:24-25, que faz parte da polêmica que envolve o Pr. Marco Feliciano.

Genesis 9:24-25 e o Pr. Marco Feliciano

Por causa das suas postagens no Twitter e vídeos no Youtube, a mídia está dizendo que o Pr. Marco Feliciano é racista. Mesmo que não seja, assim foi entendido por causa da sua interpretação de Gênesis 9:24. A interpretação que está apoiando, que os negros são descendentes de Cam e que os africanos são amaldiçoados, tem sido usada por escravocratas ao longo de um período histórico não muito distante, como um mandamento para escravizar os negros. Alguns até dizem que os africanos sofrem de AIDS porque o Cam era um perverso sexual e que também os Africanos o são. Esta teoria sustenta que Cam era negro porque alguns dos filhos de Cuxe (que é filho de Cam) foram para a África e são identificados como os etíopes (Jeremias 13:33).

Assim, não se pode começar com uma idéia ou pressuposição e daí usar a Bíblia para se defender. Mas, primeiramente, tem que se ler a Bíblia e daí formar uma posição. Seria errado assumir que a Bíblia não é racista e daí interpretá-la por essa lente; o certo é ler, interpretar a leitura e tirar as conclusões à partir deste estudo; esse é o método certo. Esta redação é resultado de um método que começa com a leitura e estudo da Bíblia, e à partir deste estudo se formou a conclusão de interpretação do texto. O versículo tomado por base para a interpretação que os Africanos são amaldiçoados é Gênesis 9:24-25 que diz (in verbis):

Quando Noé acordou do efeito do vinho e descobriu o que seu filho caçula (Cam) lhe havia feito, 25 disse:“Maldito seja Canaã! Escravo de escravos será para os seus irmãos.” (NVI)

Primeiro deve ser notado que a pessoa que está sendo amaldiçoada é Canaã e seus filhos e não o Cam e seus filhos. Canaã é neto de Noé. Gênesis 10:6 mostra que Cam tinha outros filhos, “Estes foram os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim (Egito), Pute e Canaã.”

Olhando, cautelosa e detidamente, para Jeremias 13:23 (in verbis): “Será que o etíope pode mudar a sua pele?” (NVI) tem sido entendido que o etíope tem cor de pele diferente. Também deve notar que no hebraico diz “cuxita” e a Septuaginta interpreta a referida palavra como “etíope.” Isso quer dizer que os tradutores da Septuaginta entendiam que os cuxitas são de pele escura. Canaã não é Cuxita, logo o Cuxita não é amaldiçoado por Noé. Agora, se Cam fosse amaldiçoado, daí os Cuxitas também teriam sido amaldiçoados com seu pai, mas esse não é o caso, quem foi amaldiçoado foi Canaã. Suponha que o Cam fosse negro, mesmo assim a maldição não seria para todos os negros, mas somente para os filhos de Canaã. E também não há nada no texto sobre a cor da pele de ninguém. Também é importante ressaltar que um dos filhos de Cam chama-se Egito. Pelos hieróglifos, os Egípcios não são negros. Além disto, os Egípcios tinham um reino muito poderoso e até hoje as pirâmides existem para testemunho da grandiosidade da antiga nação egípcia, logo não pode-se dizer que eles são totalmente amaldiçoados. Igualmente, a massante maioria dos africanos negros nunca foram escravizados.

Assim sendo, pode-se concluir que os Africanos não foram amaldiçoados com Canaã e que nem todos os filhos de Cam eram de cor negra. Este teve como objetivo esclarecer a interpretação de Gênesis 9:24-25 quanto a identidade de Canaã.

Obs: Se você estiver interessado(a) em ler uma postagem sobre a maldição de Canaã, faça seu comentário nesta postagem.  

Escrito por: Tyler Huson